Janaína, do alto de seus 14 anos, olhou-se no espelho: as faces em brasa expunham todo o pânico que assombrava sua alma adolescente. Não poderia, não conseguiria, é: não iria.
Felipe havia acabado de ligar convidando-a para um cineminha; logo ele, o garoto por quem é apaixonada desde a 5ª série, resolve, três anos depois, para seu completo desespero, notá-la. A situação era a seguinte: por um lado ela tinha que ir, era a chance que tinha de conquistá-lo. Por outro, nervosa do jeito que estava, ela podia estragar tudo. Era uma situação que ela não podia resolver sozinha, precisava convocar sua consultoria amorosa, sua BFF, Larissa.
A ligação não durou mais que 5 segundos:
- Lari, vem pra cá agora. Seguinte, o Lipe me chamou para um cineminha, e eu to tão nervosa que posso acabar fazendo besteira, tipo desmaiar, vomitar, ir com uma roupa uó, sei lá. Vem rá-pi-do!
Larissa, morrendo de ansiedade, chegou em 3 minutos. Jana estava sentada na beira da cama, do lado de um vestido tomara-que-caia azul, uma tiara de strass e de uma sapatilha fofa. Ela estava vermelha como nunca, os seus lindos olhos azuis tinham o triplo do tamanho, correspondendo a sua insegurança.
Larissa checou o look que a amiga havia separado, fez caras e bocas, abriu um sorriso iluminado e disse:
- Amiiiiiiiiiiga, esse é o encontro da história!! Aposto que hoje o sol nasceu pra brilhar só pra você gatz! – Sua empolgação e excitação desapareceram no exato momento em que ela virou para Jana. Avaliou sua expressão com desprezo e continuou: Mas que cara azeda é essa criatura? Chega de se lamuriar! Antes, era porque ele não te notava, agora que ele nota, você continua na mesma?! COMO ASSIM? Vamos amore, eu tenho certeza que vai dar tudo certo, sente a vibração de hoje, lute, ganhe! E, no seu lugar, eu fechava a boca, porque é como minha avó dizia baby: boca fechada não entra mosca.
- Não sei não amiga... Essa é minha chance cara, e se eu, sei lá, desmaiar quando ver a cara dele? Pior, se eu vomitar... Aí ferrou tudo né!
- Não, vai dar tudo certo, é só você ser natural, ser você mesma e se acalmar amor, por favor.
- Como você pode ter tanta certeza Lari?
- Ah, é o que dizem todas as revistas que eu compro. E eu sempre sigo esses conselhos... Você viu aonde eu cheguei com eles?!
- Ta, sei, chegou no Thiago, o gato que era seu sonho de consumo e que agora se tornou seu namorado. Mas quem garante que vai ser assim no meu encontro com o Lipe? E não sei... Afe, sei lá amiga, to perdida!
- Então se encontra fofa! Olha, segue os meus conselhos e...
- EU NÃO VOU, PRONTO ACABOU.
- Jana, você gosta desse menino desde a 5ª série, e eu não vou deixar uma insegurança boba e insignificante acabar com o encontro hiper-mega esperado da minha best. Estamos resolvidas?
Janaína levantou-se da cama, se sentindo renovada, e com um sorriso que certamente refletia o alivio e a segurança que ela sentia agora.
- Aaaaaaaaawn, valeu amiga, você é a melhor!
- É eu sei amor, eu sei. Agora eu vou, e você se prepara pra esse encontro! Ah, não se esquece de dar aquela telefonadinha esperta depois do encontro, ou só manda uma mensagem que eu entro no MSN.
Jana, depois de acompanhar a amiga até a porta, foi correndo tomar um banho e começou a se produzir para o encontro. Colocou a roupa que tinha separado, fez um make in-cri-vel, calçou a sapatilha delicada que tinha ganhado da Lari em seu último aniversário. O frio na barriga não dava trégua, e agora não a deixava sentar. Andando de um lado pro outro, Jana ouve o som mais alarmante que ela já havia ouvido na vida: a campainha. Janaína, do alto de seus 14 anos, caminhou até a porta, as faces em brasa expunham todo o pânico que assombrava sua alma adolescente. Parou em frente à porta, respirou fundo três vezes, lembrou de todas as vezes que havia sido ignorada por Lipe, relembrou e sentiu as palavras da amiga Lari correrem por suas veias. Abriu a porta. Olhou para o rosto perfeito, os olhos castanho-escuros mais profundos e meigos que ela tinha visto. Percebeu uma coisa: suas faces não eram as únicas em brasa. As bochechas de Lipe tinham o rosado perfeito, entregando toda a timidez e todo o nervosismo do garoto. Era tudo o que sempre sonhara. Sorriu, respirou fundo novamente, e deu o primeiro passo em direção ao sonho.
Bárbara Duwe Lima
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